quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Belisário


Pousou um passarinho na janela.
Lá fora, o vento faz chacoalhar as folhas de uma bem vivida samambaia,
O passarinho canta, e seu canto é doce.
As nuvens passam lentamente no céu que há pouco fora o caminho daquela pequena ave.
No vaso velho e surrado, onde hoje habita a samambaia, passeiam alguns poucos insetos,
tornando vivo aquele árido pedaço de terra.
No jardim, alem da janela... nasceram pela manhã algumas flores, três pra ser mais exato.
Todas de vestido, um vestido branco e com coroas douradas. 
E, naquele instante, elas sentiram-se como princesas e podiam se sentir assim, porque naquele instante... elas eram!


Isso tudo aconteceu hoje, mas quando dei por mim, já era tarde da noite.
E nada disso que eu lhes disse... eu vi.
Somente sei que aconteceu. Alguma coisa em mim fala que aconteceu...
Sozinho então, levanto-me, fecho a janela, pois, o vento é frio, desligo a TV
E deito na esperança de sonhar com aquilo que perdi.

Arthur Fernandes

Ilustração: Irisz Agocs 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Inocência

Pai, do que é feita a lua? Ela é feita de queijo?
- não, meu  filho. É rocha!
- Pai, sempre achei que era de queijo!
- Não, criança. Ela é um astro!
- Tipo os da TV?
- Astros celestes, estrelas, pedaços de terra que ficam no céu!
- ham. Pai, eu gosto de queijo, tem certeza que ela não é de queijo?
- A palavra Lua vem do latim Luna , e sabe... ela é o único satélite natural da Terra, 
 fica a uma distância de cerca de 384.405 km do nosso planeta. Lá longe.
  Dizem alguns cientistas que a queda de meteoros em sua superfície é a principal causa de seu solo ser esburacado, aquelas bolinhas que tem na lua! Por isso, parece queijo, mas não é.     
- Pai...
- oi!
- Será que é de cheddar ou suiço?

Arthur Fernandes

Ilustração: Irisz Agocs

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Audácia

Ao acaso seria eu audacioso o bastante para ousar
riscar o papel em branco, retirando dele sua pureza
profanando ao riscá-lo? Alem do mais, se eu o fizesse
Sobre o que falaria? Com tanto a ser falado, tanto a ser dito.
Se eu um dia agredir tamanha algidez, por qualquer motivo ou devaneio,
Que isso não seja em vão, que não seja por orgulho ou prepotência, muito menos um motivo vulgar.
Mais se acaso eu ousar, e profaná-lo... Que seja por um motivo nobre. E que as marcas ali deixadas transcendam o papel, e que a mensagem se torne tão profunda que nem mesmo o tempo seja capaz de apagar.
                                                                                               (Arthur Fernandes)