Vivia onde os homens sempre sonharam estar
Mas, sempre olhou para baixo e desejou ser como os homens.
Dedicou-se a isso.
Parou de cantar, arrancou suas maiores penas e agora já não
podia mais voar.
E durante um longo tempo caminhou com suas próprias pernas.
Driblou sapatos e sandálias para poder andar,
Comeu do que sobrava, do que caia da mesa dos homens e esses
nem notavam a sua pequena presença...
Cismou que sabia falar e forçou tanto que até seu canto se
tornou seco e áspero a ponto de que seu choro, seu grito por socorro, não podia
ser ouvido.
Sofreu por não ser quem verdadeiramente era.
Ao se ver em tamanha decrepitude passou a ansiar pela morte
e a desejou profundamente.
Dia após dia padecia em si mesmo.
Subiu ao mais alto dos prédios construído por aqueles que
agora chama de senhores e em um salto se desprendeu de tudo o que havia vivido.
Enquanto caia o vento lhe tocava o corpo e acariciava as
penas que novamente haviam crescido.
Girando solto no ar, lembrou-se de outrora, um passado bom.
Ao cair desejava a morte mas ao olhar para o céu, lembrou-se
que sabia voar.
.
Arthur Fernandes
Ilustração: Irisz Agocs
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